
EIXO 2. ALTITUDES DA ADMIRAÇÃO: EXEMPLARISMO E VELHEZ
Em quanto tempo se chega às altitudes da admiração? Um conhecido apelo imagético popular, virando a curva dos cinquenta, sugeriria, na cartografia dos valores contemporâneos, ir de encontro ao indesejável e inevitável abismo, entrelace jamais querido com os caminhos sonhados, ou, ao revés, o descortinar de um horizonte que convida à contemplação do sublime ocaso solar, mais, o desejo sereno, amante dessa vida finita e efêmera, de que os raios dourados daquela luminosidade atemporal se entrelacem com os fios e pelos grisalhos, de que esse fluxo arcano encontre na alteridade e no próprio sujeito a excelência moral de uma boa vida?
Um dia chego lá, sim, mas como se chega? Na resignação admonitória que elicia a pressa do fruir compulsivo da instantaneidade, na antecipação paroxística e disfarçada da morte esmaltada, ou na exclamação admirativa natural e altaneira, em sorriso de serenidade, excedente natural e generoso dessa emoção positiva que nos motiva a emular o admirável?
A hipervalorização do presente e do novo quebranta a importância da tradição da exemplaridade moral. Pessoas admiráveis de alentada experiência de vida, notadamente as da melhor idade, tensionando tempo e situacionalidade nas infinitas possibilidades fáticas da vida, são fonte viva de exemplaridade moral, as quais podem inspirar e auxiliar os outros na busca dos próprios caminhos. De outro lado, a transmissibilidade de narrativas biográficas e de experiências atua como indutor de vínculos intersubjetivos e sociais para as pessoas de terceira idade que dispõem de tempo livre e querem ensinar pelo exemplo ou contraexemplo, mas exercem pouca interatividade social, contribuindo para lhes enriquecer a existência pelo diálogo, pela generosidade educativa e pela benevolência na alteridade dessa admiração grisalha.